Por maior que seja o esforço, o resultado será quase sempre nulo. Não conheci até hoje ninguém (estou incluso na estatística) que conseguisse ver a si mesmo com isenção, com equanimidade. Estamos tão comprometidos em passar uma imagem que se aproxime da perfeição que nada é capaz de destruir essa trapaça mental que costumamos fazer. Mesmo que defeitos se sobressaiam gritantemente em relação às qualidades, serão essas últimas a ocupar um lugar de destaque no nosso diálogo com o outro.
[...]
De minha parte, tenho tentado, dia após dia, me desarmar e chegar sem escudos aos seres com que convivo. É certo que o resultado nem sempre é o desejado, mas a tentativa de reconhecer o que em mim é falho, as minhas obsessões, os demônios que me habitam, talvez mereça algum crédito. Provavelmente essa busca seja o resultado do meu cansaço em ver tantas pessoas placidamente sentadas em seu trono particular, com total desconsideração pelos desejos dos que os cercam. Quase sempre com a boca repleta de frases que fariam um ditador viciado em poder sentir-se aprendiz.
Não é fácil se despir desses auto-enganos que vamos laboriosamente alimentando ao longo da vida. Com isso não busco negar a importância da construção de uma boa imagem. Mas ela tem de ter pelo menos uma razoável relação com o que de fato somos. Caso contrário, morreremos com a falsa crença de que quem tem de mudar é a esposa, o filho, o vizinho, o colega. Uma pequena dose de honestidade é vital para desembaçar o vidro que colocamos entre nós e nós mesmos.
Vou persistir nessa interminável tarefa de trapacear um pouco menos comigo. [...] Somos mestres em disfarces. A segunda resolução é que desisti de tentar fazer o jogo do convencimento, essa tentativa de mudar quem está próximo. Pura perda de tempo. São decisões estritamente pessoais e que não podem ser forçadas por uma mão alheia, por mais leve que ela seja.
Eu sou o que menos sabe de mim. Sou meu maior desconhecido. Preciso de todos para retirar essa espessa camada que me impede de ver o óbvio. O difícil óbvio que muitas vezes embaralha o que deveria nascer encharcado de sinceridade. Se me furtar a isso, estarei cometendo a maior das traições, talvez a única que mereça esse nome.
Gilmar Marcílio
Extraído DAQUI
Amada bom dia magnífica reflexão,ainda a nesse mundo pessoas desnuda de tudo e munida da verdade...pode imaginar o sofrimento desses seres a meio a esse mundo relatado por ti.
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Olá Rosi! Obrigada pelo carinho! Fico feliz que tenha gostado da reflexão! Um beijo enorme querida! Déia
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