Hoje li uma excelente crônica do escritor e filósofo Gilmar Marcílio e decidi dividí-la com vocês.
Exibidos
A maioria de nós não quer mais ver, quer apenas ser visto
É uma tentativa de reter lembranças que parecem mofar nas gavetas da memória. Mas é, também, uma recusa em perceber o movimento que gera a vida. Há 100, 200 anos, outros sentiram isso como nós, vislumbrando o esfacelamento de tudo que sustentava sua maneira de ver a realidade mais imediata. E assim acontecerá num futuro próximo e distante. É da natureza humana aparentar-se da insatisfação.
Tenho me esforçado consideravelmente para não parecer pai ou avô de mim mesmo. Sou muito crítico, o que dificulta um pouco a aceitação tácita do que o senso comum considera como as maravilhas da época em que vivemos. Computadores, por exemplo. São instrumentos utilíssimos, que facilitam o trabalho e aproximam mais as pessoas. Mas sigo viciado em abraços, olhares e sensações. Continuo analógico em grande parte do meu dia. Porém, quando recebo e-mails, respondo-os num curto espaço de tempo. Quem os envia fica nessa expectativa e não é simpático provocar frustração nos outros. Só que faço isso sem afobação, sem desespero. Por enquanto, meu maior desafio no universo virtual é o de escrever diariamente num blog. E acho admirável quem se dedica a outras formas de comunicação on-line. Desde que estabeleça limites e não ultrapasse a lógica do razoável.
Essa prédica toda é para chegar a um ponto que considero patológico. Estou cercado de colegas, parentes, vizinhos e desconhecidos que têm Orkut, Facebook, Twitter. Eles parecem se divertir muito com isso e não sou eu quem vai dizer que estão errados. Mas um fato preocupante tem me chamado atenção. Ilustro com uma situação recente: um casal de amigos viajou para Nova York. Assim que desembarcaram do avião, começaram a postar mensagens para que todos soubessem o que estavam vendo, fazendo, visitando, comendo. Estas informações chegavam aos correios eletrônicos a cada 20 minutos, meia hora, no máximo. Do início da manhã até o “boa noite, estamos indo dormir”. Verdade. Não passou um dia sem que o atarefado casal descrevesse em minúcias tudo o que passava pela sua frente. A conclusão óbvia é que aproveitaram pouquíssimo o passeio dos seus sonhos. Não queriam ver, queriam ser vistos, seja em palavras ou em fotos. É claro que depois do terceiro ou quarto dia ninguém estava mais interessado em suas aventuras. O detalhe importante é que eles estão loucamente apaixonados. Quando entre nós, passavam o tempo todo arrulhando, o que nos fazia lembrar esse adorável verso do Quintana: “Não existe nada mais chato no mundo do que o amor... dos outros”.
Conclusão: estamos nos transformando em Narcisos com endereço incerto. Só conseguimos ver a nós mesmos e achamos que todos estão sinceramente interessados em saber o que fazemos a cada segundo de nossa nem sempre interessante vida. Desde a roupa que estamos usando até o que jantamos. Sem entrar em outros detalhes que poderiam parecer escatológicos às almas sensíveis. Tem alguma importância dividir isso? Ajudem-me a entender, porque eu não consigo. Será que corro o risco de ser um sério candidato ao mais velho da turma?
O certo é que a banalidade (quase digo a vulgaridade) se transformou numa espécie de moeda universalmente aceita. Tudo virou platitude, carne de segunda servida em louça Limoges. Que venha o novo para arejar a vida. Sempre, sempre. Mas seria de bom tom se o pudor, algumas vezes, ainda enrubescesse a nossa face.
Flor eu demorei mas apareci, ja te sigo amei o blog.
ResponderExcluirbjk
Andreia
ResponderExcluirTexto muito pertinente...amei
é mais ou menos por ai...
foi-se o EU..o que importa são os outros...que nem sempre importam tanto
beijocas
Loisane
Oi Valéria, oi Loisane!
ResponderExcluirMeninas, é um prazer tê-las por aqui!
Valéria, fico feliz que esteja gostando do blog! Sinta-se em casa! Bjs! Déia
Loisane, que bom que gostou! Sinta-se à vontade por aqui! Bjs querida! Déia
Que perfeito o que escreveu. Temos muito a refletir com tudo isso.
ResponderExcluirChega um dia que a gente olha em volta e se da conta que só tem amigos virtuais. Isso é triste!
bjo
Olá Nanda tudo bem?
ResponderExcluirRealmente é um paradoxo, não é mesmo? Ao nos aproximarmos virtualmente, muitas vezes nos isolamos daqueles que estão próximo!
Seja sempre muito bem-vinda!
Abraços,
Déia
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ResponderExcluirQUE SUA SEMANA SEJA TODA LUZ!!!
Realmente! Bom mesmo o texto!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar esta preciosidade conosco.
Beijos meus e um bom final de semana!
Olá Adriana, Olá Pri!
ResponderExcluirAdriana, pode deixar que irei até seu blog para conhecer. Abraços, Déia
Pri, que bom que você gostou do texto! Bjs querida! Déia
Adorei o texto... é muito inspirador, já que eu também, tento não me viciar em atualizar o meu status do facebook o tempo todo. As vezes é difícil separar a vida virtual da real, mas a gente tem que se esforçar para não sermos narcisistas demais e achar que todos estão interessados!
ResponderExcluirLeh, querida, fico mto feliz que vc tenha gostado! Bjs enormes!
ResponderExcluirDéia