segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Morrer lentamente



Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado,não arrisca vestir uma cor nova,não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda

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Manoel de Barros

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